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O socialismo com rosto humano ou socialismo com face humana foi um programa político anunciado por Alexander Dubcek e seus colaboradores , depois que se tornou presidente do Partido em janeiro de 1968. Em 1968, eles tinham declarado querer:
"libertar o marxismo da deformação stalinista e burocrática" e "formular a vocação humanista do movimento comunista".
Foi um processo ameno de democratização e liberalização política que ainda permitiria que o Partido Comunista mantivesse o poder real. Os eventos que resultam da aplicação deste programa na República Socialista da Checoslováquia são conhecidos como Primavera de Praga. Terminou com a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, que foi seguido pela "normalização" política, social e econômica do país.
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Soberania dos Operários
Foi preciso esperar três meses, após janeiro de 1968, para que os trabalhadores e as trabalhadoras começassem a mover-se através da brecha aberta pela crise na direção do partido. A direcção do Movimento dos Sindicatos Revolucionários (ROH), organização oficial, tinha muito pouco apego às reformas. O seu secretário, Miroslav Pastrick, escrevia em janeiro no jornal do sindicato, Prace, que o ROH devia “servir incondicionalmente o socialismo” (leia-se o partido) e “reforçar a unidade ideológica das massas”. Esta é uma perfeita ilustração da conceção estalinista do sindicato como correia de transmissão do partido.
A tendência Novotny, bem ancorada no aparelho sindical, fez campanha nas empresas contra os reformadores. Dubcek e a sua equipa só reagem em meados de março, a direcção do ROH é destituída. Os reformadores deviam dar confiança aos trabalhadores de que iam dispor de mais meios para a defesa dos seus interesses; é uma espécie de moeda de troca contra a introdução de reformas que afetassem as condições de trabalho e emprego. Além disso, perante os obstáculos levantados pelos burocratas incompetentes que colonizam a direcção das empresas, era preciso apoiarem-se nas e nos produtores. O Programa de Ação adotado pelo CC do PCCh a 5 de abril afirma: “…o Partido considera que é indispensável que todo o coletivo de trabalho que e as consequências, tenha também uma influência na gestão das empresas. Assim nasce a necessidade de órgãos democráticos nas empresas, que tenham poderes delimitados no que diz respeito à direcção da empresa”. No entanto, o programa precisa os limites destes “órgãos democráticos”: “Naturalmente, isso não muda em nada a autoridade indivisível e o poder dos quadros dirigentes da empresa”.
No mês de maio eclodem uma série de greves que com frequência têm como alvo diretores de empresa incapazes e corruptos. O dirigente dos sindicatos da Eslováquia, Daubner, escreve no jornal Pravda de Bratislava que os gestores “não compreenderam que houve uma mudança e que devem considerar os sindicatos como um interlocutor sério”.
No início de junho constituem-se dois conselhos operários em duas empresas chave: CKD de Praga e Skoda de Pinsel. Em finais de junho os trabalhadores da CKD elaboram uns Estatutos da autogestão:
“Os trabalhadores da fábrica CKD, realizando um dos direitos fundamentais da democracia socialista, o direito dos trabalhadores gerirem as suas empresas, e desejando uma união mais estreita dos interesses de toda a sociedade com os de cada indivíduo, decidiram fundar a autogestão dos trabalhadores que toma em suas mãos a gestão da fábrica”.
Estes estatutos definem o lugar respectivo da Assembleia de Autogestão da empresa (órgão soberano, no qual participam todos os empregados, menos o diretor) e do Conselho de Trabalhadores (eleito pela Assembleia). O posto de diretor é escolhido em concurso pelo Conselho e pela Assembleia. Esta dinâmica atravessa a reunião da Conferência Nacional do ROH em meados de junho. Nela a greve é reconhecida como um meio de defesa dos interesses dos assalariados e, além disso, incitam à criação de Conselhos de Trabalhadores. Por conseguinte, na Checoslováquia o movimento dos conselhos apoia-se no movimento sindical, ainda que delimitando as tarefas respectivas do sindicato (defesa dos interesses sociais) e dos conselhos (gestão).
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Quando se dá a invasão soviética, os trabalhadores organizados nas empresas ocupam um lugar central na resistência: os metalúrgicos, cuja federação agrupa 900.000 trabalhadores, representam a ala mais radical. O XIV Congresso, clandestino, do PCCh tem lugar na fábrica CKD de Vysocani, nas proximidades de Praga, e traduz a fusão entre a resistência operária e nacional à ocupação e a vontade de alargar os instrumentos de autogestão.
O desenvolvimento dos conselhos tem lugar após agosto. Em junho havia 19, em outubro 113 e 140 estavam em fase de organização. Mas a 24 de outubro Dubcek faz adotar um decreto para bloquear a extensão dos conselhos; esta é uma demonstração da função que Dubcek assume na primeira fase da normalização. A oposição operária contra esta medida é tão forte que a direcção do ROH tem que denunciar publicamente o decreto a 11 de novembro.
Apesar de todos estes obstáculos, o movimento dos conselhos vai progredindo. A 9 e 10 de janeiro de 1969 tem lugar um Congresso na fábrica Skoda que reúne delegados de 200 conselhos, os quais decidem criar uma associação nacional dos conselhos. Mas esta mobilização não encontra articulação no terreno político. Dubcek desmobiliza e impede ao mesmo tempo a emergência de uma alternativa. Os normalizadores pam mãos à obra. A aliança entre “os diretores gerais e os diretores das empresas” e os “amigos soviéticos” acaba por produzir um projeto de lei sobre a “empresa socialista” em fevereiro de 1969. Nele propõe-se um “Conselho de empresa” no qual os organismos do Estado e os seus representantes têm o peso decisivo.
O VII Congresso do ROH, que se reúne em março de 1969, mostra a amplitude da recusa ao projeto de lei. A resolução do sindicato, ainda que faça concessões ao governo, insiste “na criação dos Conselhos de Trabalhadores, enquanto órgãos democráticos supremos de gestão das empresas…, uma parte decisiva dos membros dos Conselhos de Trabalhadores deve ser eleita entre os empregados das empresas”. A ofensiva normalizadora vai-se reforçando. Em abril de 1969 o Conselho Nacional Checo suspende a discussão do projeto de lei. As purgas aceleram-se. Em julho de 1970, os conselhos serão formalmente proibidos pelo Ministério da Indústria e a 5 de março de 1972 o Conselho Central do ROH condenava oficialmente os Conselhos de Trabalhadores porque implicam “a agem à liquidação da propriedade social global”. A normalização consegue assim impor-se, em nome da ordem e do “socialismo”, contra a democracia socialista na sociedade e nas fábricas.
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Resistência ao Totalitarismo e Imperialismo Soviético
A União Soviética, temendo a influência que uma Tchecoslováquia democrática e socialista, independente da influência soviética e com garantias de liberdades à sociedade, pudesse ar às nações socialistas e às "democracias populares", mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadirem a capital Praga em 21 de Agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscou. Na cidade de Praga a população reagiu à invasão soviética de forma não violenta, desnorteando as tropas. A organização quase espontânea foi em parte liderada pela cadeia de vários pequenos transmissores construídos às pressas por membros do exército tcheco e aficcionados por rádio transmissores: a Rádio Tchecoslováquia Livre. Cada emissora transmitia instruções para a população por não mais que 9 minutos e depois saia do ar, dando o espaço para uma outra, impossibilitando assim a triangulação do sinal. Suas instruções eram para a população manter a calma e, sobretudo, não colaborar com os invasores. Os russos ainda tentaram trazer uma potente estação de rádio para criar interferências nos sinais, porém, os ferroviários tchecos, com uma extrema competência, atrasaram a entrega e, quando a estação chegou ao seu destino, estava inutilizável.
Os russos conseguiram uma ocupação total em poucas horas, porém chegaram a um ime político: as diversas tentativas para criar um governo colaboracionista fracassaram e a população tcheca foi eficiente em minar a moral das tropas. No dia 23 se iniciou uma greve geral, e no dia 26 se publicou o decálogo da não cooperação:
não sei, não conheço, não direi, não tenho, não sei fazer, não darei, não posso, não irei, não ensinarei, não farei!
Através de uma rede de radioamadores, a população era informada sobre ações que poderiam ser organizadas para levar a cabo uma resistência não violenta. Tal reação foi espontânea, devido à impossibilidade de se utilizar a ação violenta. De certa forma, a população se inspirou em um livro picaresco muito popular, "O valente soldado Chveik", onde o personagem usava de travessuras para expulsar as tropas invasoras.
A paralisação dos trens interrompeu a comunicação com os países aliados, e para evitar que os tanques chegassem até Praga, as placas de sinalização foram invertidas, e depois pintadas com uma tinta fácil de se raspar. Quando os soldados raspavam as tintas para verem a indicação correta, acabavam indo na direção de Moscou. Enquanto isso, os raptores contavam a Dubcek que a população tcheca estava sendo massacrada, como fora a população húngara, 12 anos antes, o que o levou a um acordo de renúncia.
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