O que mais me fascina nessa tirinha é a crítica sutil e ao mesmo tempo mordaz à superficialidade com que muitas vezes se fazem julgamentos morais. Note que, embora os personagens na fila do céu apresentem visuais estereotipadamente associados ao ‘errado’ por certos grupos sociais, estão lá, aguardando o julgamento divino, enquanto no inferno, há pessoas que se consideram detentoras da fé, mas agem com histeria e falta de discernimento. Ademais, o humor surge do paradoxo: o demônio cansado, desmotivado com seu trabalho, diante da incoerência humana, o que, por consequência, subverte a ideia tradicional do mal absoluto e o humaniza. Portanto, ao refletirmos sobre essa cena, somos convidados a repensar os critérios pelos quais julgamos o ‘bem’ e o ‘mal’, e perceber que muitas vezes o real inferno é a ignorância disfarçada de santidade.
G. Angélis Ulysses Neto.

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